3 de março de 2014

foi só um sonho.

um pesadelo, um conto.

uma pessoa que não devia estar lá estava lá e estava muito bem e não se importava em mostrar o quanto estava bem mesmo vendo o quanto isso me incomodava. e minhas coisas estavam erradas, ela não deixava eu pegar minha bolsa e ir embora, eu tava com uma meia de cada cor, eu não conseguia sair do lugar, da casa dessa pessoa, sendo que eu tava desesperada, completamente desesperada porque não sabia e não entendia o que tava fazendo ali. meu melhor amigo foi me buscar e não me esperou porque queria que eu fosse embora sem a bolsa. ele não conseguia entender que era injusto deixar a bolsa ali, porque era só isso que eu tinha levado depois de ter estado com a pessoa. então ele voltou mas sem o carro, saímos à pé e a ponte que eu tinha que atravessar estava mole, completamente mole e eu não tive coragem. me neguei a me arriscar morrer só pra escapar de uma situação ruim. então de repente eu tava em casa, chorando que nem criança com coração partido e falando pra minha mãe que não era justo ela estar bem e nem inveja e nem raiva mas que eu tava mal e ela tinha que perceber isso e fazia bico com os olhos cheios de lágrimas. minha mãe me abraçava e eu me sentia aquecida. então eu levantei, e no próximo segundo tava numa casa de shows, daquelas de dois pisos, e o show acontecia lá embaixo e eu tava com a minha menina que não é mais minha menina desde ontem e eu sentia ali no show que algo de errado ia acontecer mas todos sorriam e estavam felizes e estava escuro. mas eu sempre sei quando algo de ruim vai acontecer. e fiquei ali esperando o desastre, como sempre. então, como na minha vida real, uns caras levantaram sorrindo muito ali no segundo piso que eu tava e todo mundo ficou feliz com eles mas eu sabia que aquele sorriso não era de felicidade mas as pessoas são burras e acham que quem sorri não quer ver tu cair. eu segurei forte da mão da minha ex-menina, apertei ainda mais quando vi que ela ingênua também achou que os caras que estavam levantando estavam prontos pra algo bom. eu sabia que não estavam e olhei pro piso debaixo.   não deu outra! também tinha uma gangue lá embaixo e eles também levantaram sorrindo. começaram a sorrir uns de uma gangue pra outros de outra gangues. eram maloqueiros, vândalos, como torcida de futebol. eram uns nove em cada lado. nove do lado de cima do meu lado direito, nove do meu lado esquerdo, abaixo de mim. então eles começaram a tirar as camisetas e mostrarem suas cuecas uns pros outros e todo mundo entendeu que era briga e eles olharam pra todos ali dentro como dizendo que eles iam se matar depois. depois que matassem a gente. todos saíram correndo, aquele tumulto, todo mundo procurando um lugar pra se esconder. e não era mais uma casa de show, era um convento. não tinha ninguém, era tudo limpo, com quartos e cozinhas e banheiros e todo mundo se escondendo. e eu corria segurando a mão da minha pequena e agradecendo por agora estar com um corpo que me permitia correr e me defender. achei um lugar pra se esconder com ela mas todo mundo tava junto e correndo e ela soltou minha mão. eu berrei o nome dela, ouvi ela berrando o meu, e eu voltei pro tumulto procurando ela e berrando o nome dela. não encontrei e fui me proteger. e lembro bem da sensação de encontrar um lugar e saber que nada ali me aconteceria e eu me sentia muito esperta e inteligente e segura e eu estava tão bem que resolvi largar tudo ali sozinha e fui atrás da minha pequena. e era uma cozinha e eu subia nas geladeiras e nos fogões e agradecia e me sentia bem por estar magra e flexível com fôlego e era um silêncio absurdo e aquela coisa no ar de que eu devia ficar quieta e ir me proteger mas eu não queria saber de nada além de procurar e abraçar minha menina. eu não estava brava, valente, com raiva e nem com medo. só estava determinada a encontrar minha menina. e senti uma pedra enorme vindo na minha direção. doeu muito. doeu muito a sensação de ter escapado, ela passou arranhando meu nariz. aquela pedra me mataria. mas não me pegou. então eu continuei correndo sem olhar pra trás mas olhando em todos os cantos procurando minha menina e eu não encontrava ela mas não sentia o desespero só sentia medo porque sabia que ela estava com medo e não queria jamais que ela pensasse que eu não estava procurando ela. não estava preocupada comigo, só queria me colocar na frente dela caso eles conseguissem encontrá-la. antes eu. e eu procurava, determinada e com um sentimento de proteção absurdo e sem medo. eu só queria achar ela e proteger. mas não achei e continuei correndo e procurando até acordar num susto. 

acordei chorando.

isso nunca tinha me acontecido antes.
nunca deixei ninguém com medo antes.

um pesadelo. foi só isso.
o medo, a menina, a pessoa que não devia estar lá, o desespero, a aflição, as brigas, o confronto, escapar de me machucarem, o amigo que não ajudava, não conseguir atravessar a ponte: foi só um pesadelo. 

foi só um pesadelo. foi só um pesadelo. foi só um pesadelo.

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