16 de março de 2014

Romântica.

Eu sou romântica. Sério, sou um doce. Com o cara certo ou a menina certa ou eu viro um cavalheiro ou um viro uma mocinha. Sim, uma mocinha com a menina e um cavalheiro com o cara... Eu sei me comportar e ser AQUELA PESSOA. Com educação, classe e finesse - como minha Mãe adora dizer. Sou aquela nora perfeita que a sua Mãe vai te dar um tapa e falar "Por que você não consegue uma dessas?" e você não vai entender e vai pensar que ela tá louca porque onde já se viu todo aquele teatro que eu fiz na frente das pessoas educadas e vai responder  "Ah Mãe, se ligue, a Fabíola é uma maloqueira, toda macho e tal, olha as gírias que ela usa e pá." Eu só digo uma coisa, mundo cruel de aparências surrealistas: 

- Cês tão tudo maluco, mano. Minha calcinha é de coraçãozinho.
- Ah é? E aquela cueca escrita Piraña? É de menina?
- Espero que você não esteja mexendo na minhas coisas.
- Você ficou brava, mocinha?
- Eu tô falando sério, cara. Não mexe nas minhas coisas. Sério.

Esse texto foi feito com fluxo de pensamento com o intuito de mostrar que é possível ser romântica sem ser fofa. Quer dizer, sem gostar de coisas fofas. Fofa eu não sou. Mas gosto pra caralho de coisas fofas. Sério mesmo.

Quebrei me cara. Sozinha. Que mel.

Brincadeira de criança.

Há duas semanas, mais ou menos nesse horário de almoço, eu atendi uma ligação inesperada. Eu mal conhecia o cara e ele me ligou do nada. Parece que nesses últimos 14 dias, nós estávamos o tempo todo nessa ligação. Ligação de conexão, interligados. Ontem à tarde essa ligação foi encerrada. Meu corpo gelou quando eu ouvi do outro lado da linha um homem falando "Eu não quero te conhecer mais. Você me dá medo. E você me lembra tudo que já me aconteceu de errado." Calma. Ok. Quando dói a cabeça, o fígado, o pulmão, o estômago, a gente vai pro hospital, pro médico. Talvez pra uma sala de emergência caso o caso seja desesperador.  Vamos até para a reabilitação para prevenir futuros e maiores danos e prejuízos. Mas quando dói bem forte o peito, quando algumas palavras ecoam na tua mente e nada parece te distrair, o que você faz? O que se faz quando alguém te deixa pra trás? O que eu faria? Não tenho mais vontade de afogar as mágoas, sei que não encontraria mais tranquilidade no fundo de um copo de cerveja. Sei também que de nada adiantaria um baseado agora. Não fumo mais pra esquecer. Não adianta eu nem olhar pra essa carteira de Lucky Strike. Nem a nicotina me acalmaria. E eu não quero que minha valentia seja apenas em pó. Então, o que eu posso fazer? É um domingo de Sol. Caminhar? Ouvir música? Escrever? Eu já fui camelar no parque com meu bloco e meus fones. E já voltei. E agora?

Coração machucado faz o corpo inteiro se sentir entorpecido!
Que droga nova  é essa de dizer "Eu te amo" sem amar mesmo?

Essa é uma onda que não me agrada. Nem. Um. Pouco.

Cresça, rapaz. Sério.
Cresça e desapareça.

6 de março de 2014

Não sou louca.

Eu conversando com um esquizofrênico e usuário de crack.

- Se tá na minha imaginação, o que impede de ser real?
- Eu achei muito bonito isso que você falou, Rafa.
- Mas você entendeu o que eu disse, Fabíola? 
- Claro que sim, aliás, tô escrevendo um livro, sabe? E um dos personagens do meu livro também tem o nome de Rafael. Eu também imaginei tudo isso e vou colocar em vida no papel, Rafa.
- Você também tem coisas na cabeça?
- Eu tenho muitas coisas na cabeça! Sou bem criativa.
- Sim, mas você é esquizofrênica também?
- Uma vez um médico disse...
- Ah, eles mentem! Não deixe ninguém dizer que você é louca.

Achem graça, kids.
Achem bastante graça.

:*

5 de março de 2014

Sou obrigada.

- Fabíola, como você está?
- Ah, não ando muito bem não.
- Andas é cheia de palavras vazias de significados, de amores vãos, de vis metais. Andas é cheia de atitudes opostas aquelas que recebe de quem te rodeia, de quem te quer bem e te buscas. Andas é cheia de fases complexas, atitudes maníacas e antônimos de gentilezas. Andas é vazia de convivência e contrato social. Entendo tua fase de eus, mas compreendas que o mundo não irá parar somente para contemplar-te, compreender-te. Até os amores eternos sofrem exaustão e quando isto acontece o mais triste é a imensidão de questionamentos, a inundação de 'E se' que se seguem.
- E se me acharem esquisita?
- Se te acharem esquisita, responda o que eu respondia.
- O que você respondia, meu amor?
- "E se me achar esquisita, respeite também."
- E se perguntarem por quê?
- Porque "Até eu fui obrigada a me respeitar."
- Obrigada?
- É, obrigada.
- Obrigada pela conversa, Clarice Lispector. 

4 de março de 2014

OLX

- Querido, você é retardado?
- Não, não sou.
- Pois parece. Você não anda dizendo por aí que é muito importante aprender a desapegar e que está mais feliz se desapegando das coisas?
- Sim. E?
- E você acha mesmo que uma pessoa que está desapegada fica assim aflito e contando as horas com o celular na mão, meu amor?
- Mas ela sumiu do nada e ontem e eu e a gente e nossa e
- E cala a boca!
- Mas
- Mas desapegue.

3 de março de 2014

foi só um sonho.

um pesadelo, um conto.

uma pessoa que não devia estar lá estava lá e estava muito bem e não se importava em mostrar o quanto estava bem mesmo vendo o quanto isso me incomodava. e minhas coisas estavam erradas, ela não deixava eu pegar minha bolsa e ir embora, eu tava com uma meia de cada cor, eu não conseguia sair do lugar, da casa dessa pessoa, sendo que eu tava desesperada, completamente desesperada porque não sabia e não entendia o que tava fazendo ali. meu melhor amigo foi me buscar e não me esperou porque queria que eu fosse embora sem a bolsa. ele não conseguia entender que era injusto deixar a bolsa ali, porque era só isso que eu tinha levado depois de ter estado com a pessoa. então ele voltou mas sem o carro, saímos à pé e a ponte que eu tinha que atravessar estava mole, completamente mole e eu não tive coragem. me neguei a me arriscar morrer só pra escapar de uma situação ruim. então de repente eu tava em casa, chorando que nem criança com coração partido e falando pra minha mãe que não era justo ela estar bem e nem inveja e nem raiva mas que eu tava mal e ela tinha que perceber isso e fazia bico com os olhos cheios de lágrimas. minha mãe me abraçava e eu me sentia aquecida. então eu levantei, e no próximo segundo tava numa casa de shows, daquelas de dois pisos, e o show acontecia lá embaixo e eu tava com a minha menina que não é mais minha menina desde ontem e eu sentia ali no show que algo de errado ia acontecer mas todos sorriam e estavam felizes e estava escuro. mas eu sempre sei quando algo de ruim vai acontecer. e fiquei ali esperando o desastre, como sempre. então, como na minha vida real, uns caras levantaram sorrindo muito ali no segundo piso que eu tava e todo mundo ficou feliz com eles mas eu sabia que aquele sorriso não era de felicidade mas as pessoas são burras e acham que quem sorri não quer ver tu cair. eu segurei forte da mão da minha ex-menina, apertei ainda mais quando vi que ela ingênua também achou que os caras que estavam levantando estavam prontos pra algo bom. eu sabia que não estavam e olhei pro piso debaixo.   não deu outra! também tinha uma gangue lá embaixo e eles também levantaram sorrindo. começaram a sorrir uns de uma gangue pra outros de outra gangues. eram maloqueiros, vândalos, como torcida de futebol. eram uns nove em cada lado. nove do lado de cima do meu lado direito, nove do meu lado esquerdo, abaixo de mim. então eles começaram a tirar as camisetas e mostrarem suas cuecas uns pros outros e todo mundo entendeu que era briga e eles olharam pra todos ali dentro como dizendo que eles iam se matar depois. depois que matassem a gente. todos saíram correndo, aquele tumulto, todo mundo procurando um lugar pra se esconder. e não era mais uma casa de show, era um convento. não tinha ninguém, era tudo limpo, com quartos e cozinhas e banheiros e todo mundo se escondendo. e eu corria segurando a mão da minha pequena e agradecendo por agora estar com um corpo que me permitia correr e me defender. achei um lugar pra se esconder com ela mas todo mundo tava junto e correndo e ela soltou minha mão. eu berrei o nome dela, ouvi ela berrando o meu, e eu voltei pro tumulto procurando ela e berrando o nome dela. não encontrei e fui me proteger. e lembro bem da sensação de encontrar um lugar e saber que nada ali me aconteceria e eu me sentia muito esperta e inteligente e segura e eu estava tão bem que resolvi largar tudo ali sozinha e fui atrás da minha pequena. e era uma cozinha e eu subia nas geladeiras e nos fogões e agradecia e me sentia bem por estar magra e flexível com fôlego e era um silêncio absurdo e aquela coisa no ar de que eu devia ficar quieta e ir me proteger mas eu não queria saber de nada além de procurar e abraçar minha menina. eu não estava brava, valente, com raiva e nem com medo. só estava determinada a encontrar minha menina. e senti uma pedra enorme vindo na minha direção. doeu muito. doeu muito a sensação de ter escapado, ela passou arranhando meu nariz. aquela pedra me mataria. mas não me pegou. então eu continuei correndo sem olhar pra trás mas olhando em todos os cantos procurando minha menina e eu não encontrava ela mas não sentia o desespero só sentia medo porque sabia que ela estava com medo e não queria jamais que ela pensasse que eu não estava procurando ela. não estava preocupada comigo, só queria me colocar na frente dela caso eles conseguissem encontrá-la. antes eu. e eu procurava, determinada e com um sentimento de proteção absurdo e sem medo. eu só queria achar ela e proteger. mas não achei e continuei correndo e procurando até acordar num susto. 

acordei chorando.

isso nunca tinha me acontecido antes.
nunca deixei ninguém com medo antes.

um pesadelo. foi só isso.
o medo, a menina, a pessoa que não devia estar lá, o desespero, a aflição, as brigas, o confronto, escapar de me machucarem, o amigo que não ajudava, não conseguir atravessar a ponte: foi só um pesadelo. 

foi só um pesadelo. foi só um pesadelo. foi só um pesadelo.

2 de março de 2014

Ainda lembro.

- Eu lembro a primeira vez que te vi. 
- Eu não lembro a primeira vez que te vi.
- Já faz 15 anos. Parece que eu não existia antes de te conhecer, Rafael. Eu não lembro de nada direito antes dos meus 12 anos. 
- Estou sem palavras.
- Estou com fome.

Fiel à mim.

- Não é questão de fidelidade à você.
- Não precisa ficar tão bravo, calma.
- COMO NÃO CARA?!?! 
- Calma, amor, eu confio em você. Sei que você é fiel.
- Eu sou fiel à mim, Rafael. E por isso mesmo só encosta em mim quem eu quero. E é só você que pode encostar em mim. É só você que eu deixo encostar em mim. É só você que eu quero que encoste em mim. Mais ninguém!
- Mais ninguém?
- Mais ninguém. Nunca mais.

Man, I love you.

Ficar longe de você me faz ficar longe de mim. 
Sinto como se perdesse o meu melhor quando não sinto o teu perfume na minha respiração; quando não sinto a tua pele no meu corpo; quando não sinto a tua boca no meu pescoço. Não sou eu sem você por perto. Não há tempo o suficiente, beijos suficientes, amores suficientes, gemidos suficientes quando estamos juntos. Nunca desejei tanto alguém. Nunca desejei tanto. 
Sentir você faz eu me sentir mais vivo.

Me sinto mais homem quando você está em mim.

1 de março de 2014

Nunca negue a Vitória.

Vitória foi estuprada. Vitória foi estuprada várias vezes. Vitória foi estuprada várias vezes por vários homens. Vitória foi estuprada várias vezes por vários homens diferentes. Vitória não tinha pouca idade. Vitória tinha quase 30 anos. Vitória ouviu dizer que mulheres de quase 30 anos não podem ser vítimas. Vitória não é vítima. Vitória não disse "Não.". Vitória estava bêbada. Vitória estava bêbada e se insinuando. Vitória ouviu dizerem isso dela. Vitória nunca teve problemas com homens. Vitória ama homens. Vitória amava álcool. Vitória foi cruel. Vitória foi egoísta. Vitória sentou numa mesa de bar cheia de homens nojentos. Vitória pagou cerveja pra eles. Vitória errou. Vitória errou em dizer que gostava de mulher. Vitória não poderia ter atiçado os homens. Vitória não deve ser lésbica. Vitória foi levada pra algum lugar. Vitória não disse "Não.". Vitória estava muito bêbada. Vitória virou mulher. Vitória não lembra de nada. Vitória não lembra dos rostos. Vitória não lembra dos gostos. Vitória não lembra dos homens. Vitória usou decote. Vitória usou decote na frente de homens. Vitória não sabia que não podia usar suas roupas. Vitória tem peitos grandes. Vitória não tem raiva. Vitória só tem lembranças. Vitória não é vítima. Vitória é uma puta então. Vitória é a culpada. Vitória bebia demais. Vitória não conseguia ir pra casa sozinha. Vitória pedia ajuda pra ir até em casa. Vitória esquecia de dizer que queria ir até à casa dela. Vitória acordava em outro lugar. Vitória acordava sozinha. Vitória não conseguia nem dizer seu nome. Vitória então não foi estuprada. Porque Vitória não disse "Não".

Por que você não disse, Vitória?

Ninguém mandou você beber, Vitória.
Ninguém mandou você usar decote, Vitória.
Ninguém mandou você sorrir, Vitória.
Ninguém mandou você confiar, Vitória.
Ninguém mandou você ser ingênua, Vitória.

- Vitória?
- Sim?
- Sim, Vitória. "Sim!"
- Sim!
- Nunca se negue a vitória.

Puta Vitória.